domingo, 27 de junho de 2010

Carpe Diem


Hoje vivo de forma calculada, todos meus passos previamente planejados de forma fria e racional. Vivo por obrigação, não mais por gosto. Perco-me com o passar dos dias, me distâncio do que me faz bem, esqueço do que antes já me fez sorrir. Preso em minhas decisões, tenho vontade de gritar. Gritar o mais alto que puder na esperança que meu grito me liberte desta condição.
Nem sempre foi assim, dias melhores se foram. Dias em que minha única preocupação era a de buscar respostas para os meus questionamentos, dias que buscava o que me fazia bem, sem medir esforços, sem considerar as dificuldades e barreiras que impomos ao tentar qualquer coisa nos dias de hoje. Olhar pra trás é nostalgia, é se apegar em algo que já foi, que só sobrevive em nosso pensamento, é um instante que se foi e não volta mais.


“ Por que foram os dias passados melhores do que estes?” De certo essa pergunta não deve vir de um coração sábio, mas quem não se perguntou isso? Todos já passamos por situações em que olhávamos para trás com um ar de tristeza, querendo ardentemente que voltássemos no tempo. Esquecemos que mais dia, ou menos dia, iremos nos lembrar de hoje e a mesma pergunta irá ser feita.
Ainda há tempo de mudar os conceitos e viver algo além, enquanto é tempo, colha seu dia. Acredite, fazer isso é dar um posso a lugares inimagináveis, é aproveitar o que temos de melhor. Os dias podem não mais ser tão iguais, e trazer novidades. Reviver é reaprender, e não mais ficar imerso ao passado.

"Colham seus botões de rosa enquanto podem, os velhos tempos ainda voam". [ Citação do Filme Sociedade dos Poetas Mortos ]

"E essa mesma flor que sorri hoje, amanhã estará morrendo." [ Do Poema "Para As Virgens, Para Fazer Muito do Tempo"
por Robert Herrick. ]

Por: Miquéias e Willian.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Mais rotações do que o necessário    


     Ele sempre vagava pelas ruas no horário do rush. Caminhava calmamente pela calçada tumultuada naquele horário, indo contra a multidão que se apressava em retornar para a casa. Não se incomodava com os esbarrões, prosseguia de forma tranquila. Ele escutava muitas coisas estúpidas, lia inevitavelmente ainda mais nos jornais, mas naquele dia em especial uma notícia lhe chamou a atenção, era comentado que estavam procurando vida em outros planetas. De fato aquilo não era uma novidade, mas o que era novo nisso era a enorme soma que era gasta com isso, tudo isso para responder a antiga pergunta: estamos sozinhos na imensidão do universo? 
     Era realmente de fato uma grande ironia isso. Ele não questionava o por que que investiam milhões em pesquisas espaciais e tão pouco na educação, segurança e em outras áreas fundamentais. Não, não cabia a ele questionar esse tipo de coisa, pessoas mais competentes e instruídas que ele já cuidavam dessas indagações, ele questionava outro ponto de toda essa pesquisa, questionava um ponto que talvez fosse meio esquecido. Ele não entendia por que estavam buscando vidas em outros planetas se não conseguiam entender a que habitava neste, não conseguiam conviver, compreender. Não entendia como nações se uniam para enviar sondas espaciais mas não conseguiam se unir para diminuir os problemas de poluição, desmatamento e etc. Isso realmente era algo que ele não compreendia. Ele assimilou bem o que o romancista Alexandre Herculano queria passar ao dizer que quanto mais se conhece aos homens, mais se aprecia os animais. Ia desistindo aos poucos de entender essa sociedade. Mas ao sentar-se no banco de uma praça, em meio a tantas pessoas passando ao seu redor algo chamou sua atenção. Era aquela menininha, que com um olhar inocente, aquele olhar cheio de esperança, ao notar que ele estava olhando para ela, abriu um sorriso e acenou. Não que ele a conhecesse, não, ela acenava pra um estranho, que de forma gentil,e muito sincera retribuiu o sorriso e acenou de volta, era um sorriso sincero. Depois de muito tempo ele conseguira sorrir de forma sincera novamente. E ele acreditou, mais uma vez em alguma coisa boa no futuro. Viu que era preciso persistir, acreditar, tarefa nada fácil, mas que por hora se mostrava recompensadora. 
     Ele se levantou, caminhou em direção a sua casa, com novas convicções. O poder que os "adultos" buscam se encontra na pureza dos pequenos. E ele acreditava novamente no bem, afinal, como disse o filósofo inglês Edmund Burke, "para o mal prosperar, basta que os homens de bem se omitam." Ele não ia desistir... "never give up, never surrender".

sábado, 5 de junho de 2010

Sentimento distinto

Ele a viu em uma praça. A noite estava magnífica com o céu estrelado e a lua em sua fase cheia. Beleza realçada pela brisa branda que soprava deixando o clima pouco mais frio, invisível e quase nunca notada. Especial, é o jeito de classificar as pessoas que admiram as coisas que não vemos.
Uma rápida troca de olhares, entretanto o suficiente para perceber que ambos examinavam a alma, e não os aspectos do corpo físico. Sucedeu um único pensamento em suas mentes. “Já nos conhecemos em outras vidas.” O disfarce era com intuito de ser mais aceitável a sociedade. “Já nos vimos em outro lugar.”

Levantou – se revestido de uma coragem inimaginável. Quem o conhece sabe bem de sua retórica, e que ele teria ficado parado. Sabe – lá por qual razão tomou aquela decisão de ir até ela. Essa vontade o dominou de tal forma que seu corpo meio que se mexia sozinho. Caminhava com suas mãos nos bolsos de sua calça, na mente um silêncio transcendental. Repentinamente ele curvou a direita e sentou – se pouco a frente na parte de fora de um Café. Ele caia na real? Questão logo resolvida. A atitude foi improvisada quando notou a aproximação de um rapaz que a beijou. Olhou de relance e percebeu que ele sorria, mas ela... Ela vagava, não estava lá.
Resolveu dar um tempo por ali e esperar o momento certo de se aproximar.
Pouco mais tarde junto com um sopro gelado seu pedido chegava. Martinni Seco. Bebeu longas doses esperando que a sua hora chegasse. Bebeu tanto que mal sentiu seu corpo fraquejar, o cansaço acumulado do dia melhor dizendo dos dias com as muitas informações e a bebida o fez cair em um sono profundo ali mesmo onde estava.
Enquanto a garota deixava de ser uma boa companhia não respondendo a nada estava submersa em seus pensamentos difusos. Seu namorado havia ido embora respeitando o pedido dela que dizia “preciso ficar só”. A movimentada praça aos poucos esvaziava. A ruiva levantou meio sem rumo ponde- se a andar lentamente, olhar perdido emitiu um brilho suave. Ele ainda estava por lá.
Foi sem percas de tempo ao encontro dele. Lá chegando notou que ele jazia adormecido. Ergue a mão hesitante e tocou seu cabelo acariciando, ele não acordou, mas sorriu. Ela retirou o casaco e colocou sobre as costas dele protegendo do frio pouco mais presente. Inclinou e beijou a face, por fim o fintou durante um longo tempo. Foi após até o caixa onde pagou a conta dele após se retirou com um ar mais leve e uma nostalgia continua.
- Senhor... Senhor.
A voz suave da garçonete se fez ouvir. O jovem ainda sonolento repara tudo a sua volta não era comum acordar em ambiente tão diferente como aquele. Passou a mão em seu rosto forçando a memória para que ela cooperasse.
- Faz muito tempo que estou aqui a dormir?
- Sim. – Ela disse sorrindo e continuou. – Se consultar o relógio verá que são quase 4 da manhã, deve haver aproximadamente três horas desde que fez seu pedido.
Ele deu de ombros. Tentando melhorar sua aparência.
- Desculpe-me pelo transtorno. Poderia me trazer a conta por favor?
- Não Senhor. Sua conta já foi paga por uma jovem ruiva, essa acrescentou que cuidássemos bem do Senhor.
Ele se lembrou da jovem, do sentimento... Percebeu ao passar a mão no ombro uma peça de roupa a mais. A garçonete o deixou só. Ele pegou lentamente a roupa e trouxe a frente para cheirar, o aroma delicioso de sua dona ainda permanecia lá. Ele ficou com a impressão de ter sido perdoado por erros cometidos contra ela em outra vida. Levantou e pôs-se a caminhar para a sua casa. No caminho sentiu – se aliviado e derramou algumas lagrimas. Na verdade, elas saiam como as de uma criança.