segunda-feira, 21 de junho de 2010

Mais rotações do que o necessário    


     Ele sempre vagava pelas ruas no horário do rush. Caminhava calmamente pela calçada tumultuada naquele horário, indo contra a multidão que se apressava em retornar para a casa. Não se incomodava com os esbarrões, prosseguia de forma tranquila. Ele escutava muitas coisas estúpidas, lia inevitavelmente ainda mais nos jornais, mas naquele dia em especial uma notícia lhe chamou a atenção, era comentado que estavam procurando vida em outros planetas. De fato aquilo não era uma novidade, mas o que era novo nisso era a enorme soma que era gasta com isso, tudo isso para responder a antiga pergunta: estamos sozinhos na imensidão do universo? 
     Era realmente de fato uma grande ironia isso. Ele não questionava o por que que investiam milhões em pesquisas espaciais e tão pouco na educação, segurança e em outras áreas fundamentais. Não, não cabia a ele questionar esse tipo de coisa, pessoas mais competentes e instruídas que ele já cuidavam dessas indagações, ele questionava outro ponto de toda essa pesquisa, questionava um ponto que talvez fosse meio esquecido. Ele não entendia por que estavam buscando vidas em outros planetas se não conseguiam entender a que habitava neste, não conseguiam conviver, compreender. Não entendia como nações se uniam para enviar sondas espaciais mas não conseguiam se unir para diminuir os problemas de poluição, desmatamento e etc. Isso realmente era algo que ele não compreendia. Ele assimilou bem o que o romancista Alexandre Herculano queria passar ao dizer que quanto mais se conhece aos homens, mais se aprecia os animais. Ia desistindo aos poucos de entender essa sociedade. Mas ao sentar-se no banco de uma praça, em meio a tantas pessoas passando ao seu redor algo chamou sua atenção. Era aquela menininha, que com um olhar inocente, aquele olhar cheio de esperança, ao notar que ele estava olhando para ela, abriu um sorriso e acenou. Não que ele a conhecesse, não, ela acenava pra um estranho, que de forma gentil,e muito sincera retribuiu o sorriso e acenou de volta, era um sorriso sincero. Depois de muito tempo ele conseguira sorrir de forma sincera novamente. E ele acreditou, mais uma vez em alguma coisa boa no futuro. Viu que era preciso persistir, acreditar, tarefa nada fácil, mas que por hora se mostrava recompensadora. 
     Ele se levantou, caminhou em direção a sua casa, com novas convicções. O poder que os "adultos" buscam se encontra na pureza dos pequenos. E ele acreditava novamente no bem, afinal, como disse o filósofo inglês Edmund Burke, "para o mal prosperar, basta que os homens de bem se omitam." Ele não ia desistir... "never give up, never surrender".

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