quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O momento

Era uma tarde fria como qualquer outra. O vento castigava as árvores, e o tempo não estava nem um pouco convidativo, apesar do lindo tapete de folhas que se formara com a ventania. Seria um belo cenário para um filme de suspense, se não tivéssemos outra história a narrar.
Marianne observava tudo aquilo pela janela. Nada, absolutamente nada faria com que ela visse algo atrativo naquela dia, estava de péssimo humor, como de hábito. Nada mais a satisfazia. Suas antigas roupas, seus antigos sapatos, seus antigos hábitos. Nem mesmo a nova guitarra que ganhara há pouco. Parece que tudo aquilo havia perdido o sentido.
Decidiu que seu futuro não seria decidido ali, à beira da janela de seu quarto, entre os cobertores. Lentamente, se despiu do pijama que vestia, trocando-o pelas primeiras peças a sua frente: Uma camiseta velha, um jeans surrado e botas de cano longo. Não parou para se olhar no espelho, era o suficiente para sair na rua.
Pegou uma jaqueta que estava pelo caminho e saiu despistada pela porta dos fundos. O momento para ela era decisivo, embora a olhos alheios, parecesse somente um passeio. Ela não sabia pra onde ia, se é que ia a algum lugar, precisava somente de um tempo consigo mesma, uma breve discussão interior.
Sabia que deveria ser breve, a família que tanto criticou em suas anotações nos últimos tempos logo notaria sua ausência. Jogou-se em um banco de uma praça e pôs se a pensar sobre todo aquele tempo que ela viveu. Os incontáveis erros, os raros, mas grandes acertos. Algumas dessas lembranças remetiam a um passado muito distante, outras, nem tanto. Volta e meia, Marianne se encontrava sorrindo de leve, ao recordar velhos tempos. Sorrisos que se apagavam rapidamente. Ela insistia em ser cruel consigo mesma e, na maioria das vezes, não se permitia sorrir levianamente.
       Foi em um desses lapsos, que um homem de aparência sofrida sentou ao seu lado. Ela, em  seu eterno desagrado com a vida, somente resmungou em resposta a aproximação. O homem, vendo-a, tirou uma velha fita do bolso, dobrou-a com certa habilidade e entregou-a. A garota pegou com má vontade, deixando de lado. O homem, não convencido, chamou a atenção dela com um pigarro e mostrou um pedaço da fita que estava saliente e disse pra que ela puxasse.

Como que para se ver livre daquela figura que ela considerava inferior, ela fez o que ele havia dito, puxou levemente a corda, o que fez formar na fita uma bela rosa. Ela olhou de volta para o desconhecido, que agora esboçava um sorriso enigmático. Abaixou a cabeça em resposta e uma lágrima escorreu de seus olhos.
Foi naquele gesto simples que Marianne percebeu: Era hora de recomeçar.



Paula está no segundo ano do ensino médio, escreve nas horas vagas e passa grande parte do seu tempo lendo e escutando música. Vale dizer também que aprecia boa música e é fã incondicional do Elton John. Pode entrar em contato com ela através do e-mail paularoberta@hotmail.co.uk

2 comentários:

  1. E a Paula escondia seu talento não é mesmo?
    Façamos como a Marianne: vamos recomeçar sempre dos pequenos gestos. *-*

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  2. Gostei bastante, quando li comentei com o Lord a respeito desses detalhes que não reparamos... desses encontros sem que haja antes uma busca. Parabéns.

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