terça-feira, 7 de setembro de 2010

Tragédia Fatal - 01

O trago




"Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós
."

Clarice Lispector


Repousei o meu corpo sobre a cadeira, ali acabava mais um dia de trabalho exaustivo. Foi quando um colega de trabalho me propôs uma ida ao bar, alegando ser dia, já que era sexta-feira. De início relutei, no fim acabei indo. É só não beber e voltar para a casa não muito tarde.
Lá chegando, Robert o colega de trabalho logo avistou alguns conhecidos seu. Eles o chamavam com a mão, sem perca de tempos ele foi até eles e me levando junto. Tratou de me apresentar a todos, na maioria mulheres bonitas, bem vestidas e desacompanhadas. Sentei-me após os comprimentos. Todos conversavam em tom pouco alto, riam, se entre olhavam, bebiam, e quando acabava, nova rodada, e se serviam.
Notei apenas quando ela já estava sentada ao meu lado. Uma mulher que aparentava ter seus 32 anos, morena, de olhos escuros e um cabelo preto liso.
- Você está muito quieto, por que não bebe um trago comigo?
O sussurro penetrou em meu ouvido, ameaçadoramente sensual. Ela por sua vez estendeu o copo de conhaque. Peguei sem pensar, olhei-a e sorri. A mulher levou sua mão para minha cintura me envolvendo.
O conhaque já estava sendo apreciado, virei, e logo peguei outro.
Conheci Stela de uma forma pouco diferente. Após transarmos loucamente no apartamento dela, foi onde dissemos as primeiras palavras, e onde me bateu o arrependimento. Eu tinha mulher... Traição. Eu que tanto abomino. Droga. Levantei subitamente da cama, ela me chamava eu não lhe dava ouvidos, me sentia sujo.
Vesti minhas roupas e sai às pressas, a madrugada me machucava, parecia querer me devorar. Encostei-me na parede de um prédio onde não havia movimentos, o choro foi algo inevitável. Chorava e deslizava pela parede até tocar o chão, onde permaneci. Mãos lançadas ao rosto, horas se batendo, outras horas coçando a cabeça. No final das contas, queria morrer, e que tudo acabasse daquela forma. Ela não sentirá saudades, nunca saberá do que aconteceu. Sim, não sou mais digno de viver. “Se não domino meus delírios também posso me enforcar”.
Não foi o caso, mas me atirei do alto do prédio, o mesmo que eu havia me escorado. A queda rápida, quase indolor, o chão se aproximava... Pronto, a morte.
O conhaque estava pronto para ser digerido, e a cena descrita acima passou em minha mente. Esfreguei meus olhos e balancei a cabeça. Aquilo tudo não passava de algo irreal. Devolvi a bebida de voltava à mesa, antes de ser colocado em minha boca.
- O que houve, fiz algo errado?
- Não, é que... Sabe, você é realmente muito atraente, mas não irei jogar minha vida fora por uma noite de prazer. – Vida, falei me referindo a minha esposa.
Ela me olhou assustada. Eu sorri e me apresentei, ela retribuiu e disse seu nome.
- Desculpe o meu mal jeito, prazer eu sou Mike.
- Stela, encantada.
- O dever me chama! Tenho que dizer a minha vida que eu a amo.
- Vida seria?
- Minha esposa Anna.
Ela sorriu. Peguei em sua mão, despedindo. E quando saia, tratei de passar em um shopping e comprar um rosa azul para entregar a minha vida. Senti que este era momento de usar um ensinamento de um amigo. Rosa azul sempre funciona. Está será a minha forma de agradecer por tantos anos me aturando. Na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza... O amor é dentre muitas outras coisas, a dança da eternidade.



· Sobre o post: Tragédia Fatal será uma história contada em partes, lembrando sempre dos dizeres de Jack O Estripador, “Vamos por parte”.

2 comentários:

  1. Muito boa esta primeira parte de Tragédia Fatal. Acompanharei as outras, sem dúvidas. *-*

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  2. Obrigado Victória, espero que a continuação lhe agrade também.

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