terça-feira, 21 de setembro de 2010

Tragédia Fatal - 03

O Outono


As horas passavam vagarosamente, sendo ainda 22:32. A caminhada longa, porém uma subida gostosa que embalou a frase do cronista Rômulo Paes “Minha vida é esta, subir Bahia, descer Floresta”. Uma brisa suave soprava, pintando o momento com tons verdes das árvores a dançar, exibiam uma harmonia intensa lembrando melodias de Beethoven. Uma magia natural, de beleza indiscutível, de poesia sem fim...
“As folhas mortas pelo chão da outra estação ainda são bonitas, ainda são perfeitas."
Jay Vaquer



O costumeiro era eu chegar a minha casa nas sextas após o começo da madrugada. Dessa vez não fiquei até muito tarde e apertei o passo, pois queria me valer dos ensinamentos da noite. Julgava ter aprendido bastante dentro de pouco mais de uma hora. Os vizinhos já velhos que tanto me ensinaram em uma gostosa conversa, não precisaram contar qual era o segundo rumo de uma vida a dois. Bastava olhar para eles, Marta e Luiz tinham respectivamente 56 e 52 anos, e viviam como se fossem eternos namorados.
Continuei a subida atento a tudo em volta, notei que o bar estava bastante movimentado, pessoas dançando ao som de música sertaneja. Outros se encontravam no restaurante ao lado onde servem diversas massas por um preço bem acessível. A cafeteria por sua vez mais vazia, poucas pessoas procuram lugares calmos e com um bom jazz, querem mais é sentir o calor humano, e esse sentir todos entendem.
O outono sempre foi parte importante de minha vida, nele que aprendi a gostar das cores, a ficar em casa quieto e ter interesse pela leitura. Quando criança costumava olhar as mudanças climáticas pela janela de meu quarto. As folhas caiam das árvores, e com aquilo aprendi que nada durava para sempre. Hoje ao rever a cena me senti frágil, como se o tempo já estivesse me consumindo, assim como consumiu a folha que vi antes e como certamente irá consumir a de hoje.
***
No bar todos riam brindando uma vã felicidade que passará quando estiverem sozinhos no escuro de seus quartos. Stela, porém havia deixado o lugar no mesmo momento que eu. Robert sempre passava da conta, mesmo assim não deixou de notar que Stela e eu tínhamos saído aparentemente juntos. Certamente supôs que estaríamos dividindo uma cama durante a noite toda, assim não precisaria cumprir com seu papel naquela noite, seus serviços estavam dispensados até segunda ordem. Sentiu – se aliviado, pois aquela já era a sétima noite que eu o acompanhava, no entanto nunca havia sequer tocado os lábios de outra mulher que não fosse Anna.
Stela resolveu voltar ao bar alguns minutos depois, acreditava já ter ficado fora tempo suficiente para que eu chegasse em casa. No bar seu semblante era triste, tinha enxugado as lagrimas tentando disfarçar sem ter resultado. Ao vê – lá Robert teve um curto clarão em sua mente, recuperando os sentidos de modo assustador. Correu até ela perguntando com tom alterado: “Onde está Mike?” Antes dela terminar a resposta, ele tirou de seu bolso o celular e apressadamente procurou na agenda pelo nome de Yuri, efetuou a ligação que não pode ser ouvida no bar por causa dos altos volumes.
Tragédia Fatal passará por um período sem postagens, voltando após quinze dias. Aos leitores que acompanham deixo meus sinceros agradecimentos.

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