quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Corcunda

Por Juliana Vieira



Eu devia ter oito ou nove anos, quando reparei aquilo.

Foi num dia calmo, como qualquer outro, que eu acordei pela manhã ainda sonolenta. Não houve complicação alguma quando fui tomar o café da manhã, tampouco ao tomar banho. De fato, eu não entendo muito bem o porquê de eu não ter dificuldade para com essas situações. Talvez seja o costume inveterado, não sei.

Havia névoa fora de casa. Eu mesmo, que sempre morei bem próximo à praia, não pude vê-la. Mamãe tinha medo de que eu me perdesse na vastidão dela, mas eu queria mesmo era tocar – ainda que a palma de minha mão não seja promíscua o suficiente para tal -, queria ver – ainda que meus olhos nada vissem senão fumaça branca -, queria cheirar – ainda que estivesse resfriada o suficiente para não sentir os sórdidos cheiros que emanavam dos esgotos.

Minha mão pairou por sobre a janela fechada do carro de meu pai; talvez eu não tivesse outra chance de ver aquele fenômeno cujo nome, até então eu desconhecia. Achava aquilo tudo maravilhoso, fascinante e curioso, também. Seria até agradável, me perder naquela nuvem que descera dos céus, só para gozar de minha privacidade.

No entanto não pude fazê-lo. Pouco a pouco, as casas de meus vizinhos e vizinhas começaram a reaparecer, o carro já em movimento. A sensação de paz que eu sentira naqueles poucos momentos de admiração silenciosa jamais se fariam iguais outra vez. Mas quando pude ver o céu, alegrei-me. Estava limpo, poucas nuvens escondiam a densidade do azul.

Foi uma maravilha, contemplar a primeira proeza que Deus inventara.

Não penso no céu, ou em névoas, atualmente. Possuo inúmeras preocupações; preciso estar sempre com o olhar fixo no chão para não tropeçar, se eu olhar demais para o alto não vou ater minha atenção no lugar por onde caminho. É isso que aprendemos a vida inteira, este fato ninguém poderá negar.

O problema é que eu vou ganhar uma enorme corcunda, se nunca desviar o olhar para o céu.


Juliana Vieira é moradora da capital do Rio de Janeiro, nasceu em 1995 e é gremista em virtude de um acordo. Nascida no Paraná (PR) é estudante e fascinada por música. (O que depende do momento, variando de "música de velho" até o heavy metal ). Pode falar com ela através de seu msn - j.uhvc@hotmail.com

5 comentários:

  1. Gostei muito do seu texto . Espero ter o prazer de ler mais textos seus aqui . Parabéns e boa sorte .

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Oi, olha eu aqui! *-*
    Gostei dessa paródia,e que para mim expressa, um grande e único potencial, que se desenvolve a cada dia.

    ResponderExcluir
  4. Lindo texto, o final brilhante. E como já foi falado, espero ler mais textos seus por aqui xDD.

    ResponderExcluir