sábado, 26 de março de 2011

Apenas o fim

E os dois estavam frente a frente, talvez pela última vez. No rosto dele uma expressão cansada, marcada pelo tempo e por decepções. Havia um olhar de medo, insegurança, incerteza do que aconteceria depois que tudo aquilo terminasse. Ela se virou para encarar ele mais uma vez, seus olhos marejados, mesmo depois de tanta conversa, de tantas explicações não era fácil se despedir. Não sabia ao certo o que estaria por vir também, ela buscava pelo que nem mesmo conhecia e mesmo tendo ensaiado tando aquele momento na sua cabeça, em frente ao espelho não era fácil se despedir de quem um dia lhe contou histórias até adormecer.
- Tem certeza disso Amanda, eu amo muito você pra me conformar – ele falava isso e as lágrimas iam se formando em seus olhos. – Podemos continuar, são três anos juntos, por que ir embora agora?
- Por favor Tomaz, é apenas o fim. Você é um rapaz legal, é antencioso como poucos nos dias de hoje, irá encontrar alguém logo. – Lágrimas caiam dos olhos delas, mesmo consciente a despedida não é fácil. – Tudo tem um fim, por favor, tente compreender.
Tudo iria ficar marcado na mente de Tomaz, desde aquela ligação que recebera dela, a voz ansiosa pedindo para ele ir buscá-la na faculdade horas antes da aula terminar. O motorista do ônibus que ele conhecia, até mesmo a senhorinha que ele cedeu o lugar no ônibus, tudo iria ficar eternizado na mente dele, o dia que perdeu seu grande amor. Ele notou o rosto dela diferente, ele tinha percebido que ela havia chorado na noite anterior, baixinho como era de seu feitio.
Assim que Amanda viu Tomaz vir em sua direção seu coração ficou pequeno, sua cabeça ia explodir de tantos flashback que se passavam, o primeiro beijo na sorveteria, aquele sorriso bobo no final de cada filme de romance que assistiam, o silêncio do quarto de quando ambos se encontravam para ler, as infindáveis discussões sobre qual o final de Antes do pôr do sol e até mesmo as teorias sobre socialismo que montavam, tudo isso estava gravado na mente e ela não esqueceria.
- Você está realmente certa disso Amanda?
Silêncio.
Ela indagava a si mesma o que realmente temos certeza nessa vida. A nossa morte é certa, iremos sorrir ao longo da vida, ficar putos, ler o significado de amor no dicionário. (Sonhar com alguém e junto de alguém) [Está certo a formação da frase?]. A certeza de que com o passar do tempo o corpo vai fraquejar, a memória só vai recolher os bons momentos, que lágrimas cairão com a perda de alguém. A pergunta ecoava em sua cabeça, nada era fácil.
- Tomaz, não estou certa. Na verdade tenho poucas certezas nessa vida. Você é uma certeza, é uma confirmação de que a vida vale à pena. Outra certeza é que eu te amo, que os melhores momentos que vivi nesses últimos três anos foram ao seu lado.
- Mas então por que partir? Por que partir e me deixar?
Como explicar, nem ela mesma sabia. Era algo dentro dela, algo que toda noite surgia na cabeça dela. A vida tem dessas coisas, quando tudo anda bem demais surge algo que começa a te corroer e te tira a paz. Eram um casal diferente, todos gostavam e eles se davam super bem, mas algo havia mudado. Ela queria descobrir o mundo, ir aos lugares onde lia, ele queria ler mais, se formar em biblioteconomia e ela fotografar o mundo.
- Onde que errei com você? – A insegurança atormentava Tomaz mais uma vez.
Mais uma lágriama caia, como dizer para ele que não havia erros. Aquilo era apenas o fim, não havia culpados, só feridos.
- Por favor Tomaz, não torne tudo isso mais difícil do que está sendo.
- I wanna hold your hand...
Aquela frase havia marcado o relacionamento, tanto ela quanto ele sabiam que aquela era uma última tentativa de lembrar ela como tudo tinha sido tão mágico, era um pedido desesperado de um coração que começava a sangrar. Ela se lembrou da primeira vez que ele havia dito aquilo, era uma sexta feira, todos já haviam comentado que o garoto tímido do curso estranho se perdia olhando para ela depois de eles terem se beijado na sorveteria. Foi na saída do teatro, ele havia se aproximado e sussurado aquilo em seu ouvido, era sua declaração, havia funcionado. Mas o momento agora era diferente, ela sabia que iria sofrer, talvez mais que ele mas não havia como medir a intensidade de tudo aquilo. Ela sabia que precisava partir, ele sabia que não podia deixá-la ir. 
 O último beijo, intenso e verdadeiro. As lágrimas rolavam soltas no rosto de ambos, não havia música nem sol naquele instante. Ela se virou para ele, disse suavemente:
- Um dia desses, em um desses encontros casuais, talvez a gente se encontre, talvez a gente encontre explicação.
Saiu sem dizer mais nada, ele não sabia pra onde ela ia. Assistindo toda aquela cena, sem compreender toda a história, mas entendendo um momento estava um senhor na casa dos sessenta e cinco, ao seu lado um velho romance e sua bengala. Ele se levantou com certa demora, caminhou vagarosamente até Tomaz que ainda chorava e falou
- Let i be.
Em um desses raros momentos de sinceridade na vida o senhor abraçou o jovem que chorava, quem passava não entendia a cena, mas isso pouco importava. Talvez aquele abraço significasse muito mais que isso.

“Eu que não amo você envelheci dez anos ou mais nesse último mês...”

Nota do autor: Esse texto é um misto do filme “Apenas o fim” e mais um monte de outras coisas. Qualquer semelhança não é mera coicidência.

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