quarta-feira, 6 de abril de 2011

Palavras

               Thiago é um jovem professor de Biologia, desde cedo só uma coisa o encantava mais do que os seres vivos, as palavras. Era incrível como ele prestava a atenção nas palavras, era um bom ouvinte. Conseguia sentir a vibração das frases soltas. Quando criança várias vezes viu um choro se transformar em riso, por qualquer frase dita. Também viu o inverso.
                Em sua adolescência repetiu mentalmente a frase de Jack Boy. “Entre nós existe a distância de muitas palavras não ditas”. Era raro um ser lançar um novo conto desse que era um herói, talvez por se parecer com ele mesmo em seus delírios. Ou pela vivencia do momento. Afinal, o sentimento puro que ele nutria por Paula passou a se confundir, entre as horas de falar e as de se calar. Se amavam, mas não sabiam como amar.
                Quando começou a lecionar se deparou com dois a três pólos de pessoas, as que não importavam o que ele falava, outras que escutavam o que queriam, por fim a minoria, esses ouviam admirados com o conhecimento e forma com que ele empregava as palavras. Poucos davam valor às palavras de um professor, vagavam em outros lugares deixando apenas os corpos físicos dentro da sala, – quando assim faziam – mesmo assim ele seguia fiel ao seu objetivo e proferia sabiamente seus ensinamentos.

                - Como está sendo o seu dia, professor? – Juliana sua esposa sorriu ao dizer. Ela talvez por ironia do destino também lecionava, e sua matéria era a língua portuguesa.

                - Quarenta alunos entre eles apenas seis se interessam, sei que sabe o que isso significa. – Coçou a cabeça como era de costume e franziu a testa, após beijou Juliana e sentou-se ao lado da jovem, com um ar de desânimo.

                - Sinto um alguém desgostoso da situação? Será que essas suas palavras estão te inspirando a prosseguir, em meu caro? – Ofereceu um sorriso, ao segurar sua mão.

                Ela sempre presente nesses momentos, única capaz de jogar o professor para cima. Transformava sem a menor dificuldade momentos ruins em aprendizagem. Thiago nunca soube como agradecer, muito embora Juliana jurasse que ele a fazia bem. Quando foi agradecer o celular da jovem professora tocou.

                Ao ouvir o que falavam do outro lado seu sorriso evaporou como uma densa nevoa que some ao embalo do vento. E desabou nos braços do marido, desnorteada chorava e soluçava, dizia entre os soluços que sua mãe morrerá. Ela não... Por quê?... Deus, por quê ela?
                Thiago a abraçou e nada disse, sabia que as palavras nada fariam naquele momento, em outra hora quem sabe, não agora. Corria em sua mente uma lembrança, fala simples dita por seu pai em um momento similar. “- Lá se vão às palavras novamente.” E chorava em silêncio.


Nota: Esse post é de autoria do Light (@lightwillian) que não pode postar por problemas de conexão.  

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