terça-feira, 12 de outubro de 2010

Tragédia Fatal - 04

Casa Vazia

Os sentimentos que vieram a ficar danificaram as estruturas construídas com o tempo. Cada tijolo unido a outros elementos erguiam os muros, era estável, aguentaria as ventanias, seria superior as reviravoltas. Bem, ao menos foi o que sempre pensei. Desde criança fui ensinado que nada na vida é fácil, e sobravam exemplos, como a maior queda. Nunca foi um muro que caia, entretanto faltava mobília em minha casa. Meu irmão levado pelas circunstâncias da vida deixou um enorme vazio, indescritível.
Contudo, a vida segue e a tristeza passa, a saudade fica, as incertezas parecem nunca se dissipar. Vários desafios surgem ao meu caminho, no caminho de todos acredito. Ah Anna, se você soubesse o quanto depositei esperanças em ti, se soubesse do vazio o qual me encontrava antes de ti conhecer. Aquele abismo aparentemente sem escapatória, uma lama de desespero contido com o auxilio de minhas tarefas, executadas unicamente com o intuito de não me deixar só comigo mesmo.
O movimento das nuvens no céu me confundia, sempre querendo saber se elas se moviam, ou se a terra era quem ditava aquele mover. Ambas? Por que não havia pensado assim antes? Gostava das coisas em movimento, sempre gostei das voltas existentes na vida. Todavia, o meu circulo poderia parar ali, onde me sentia bem, no que tinha esperança que fosse a felicidade. Logo, outra vez o vazio, estava de volta a minha casa vazia, sem mobílias e com falhas estruturais quase irreversíveis, pronta para desabar.
- Não importa o que aconteça, eu sempre estarei aqui por você. Eu sempre estarei aqui por você. Sempre...Milhas e milhas, de palavras vagas. – Se envolva em mim, eu sempre estarei aqui...
***
Aqueles óculos davam-lhe o ar de inteligente, realçado pelo modo o qual se vestia e a pasta que fazia tipo empresário. Sempre elegante e cordial era difícil não gostar dele no primeiro instante. A qualquer instante que o olhávamos parecia sorrir sincero, outras querendo esconder o que eu nunca soube, certamente guardava o porquê em sua caverna interior, onde até ele sentia dificuldade em chegar.
Antigamente, no colégio, transparecia alegria, era popular e brincava com todos. Bem visto? Nem sempre, há que ressaltar a existência de pessoas que não gostavam ou nem estavam aí para ele, eu me encaixava perfeitamente na segunda. Estudamos na mesma classe e só falávamos o necessário um com o outro, ele primeiro da sala, já eu alguém que gostava de coisas “estranhas” e nunca almejei ser primeiro embora não faltasse capacidade (segundo os professores).
Certa vez fui escolhido como orador da turma, afinal minhas redações superavam a média, os professores até faziam algumas piadas dizendo “Um gênio que não aproveita o potencial nos estudos.” O único a defender o meu ideal era Tiago professor de literatura, dizia que eu teria aprendido com Fernando Sabino, ou melhor, Eduardo. “Mike parece ter aprendido com Fernando Sabino, onde fala do escritor renunciar a tudo.” E sorria com sua observação, eu ouvia aparentemente alheio, no fundo aquilo significava muito por minha admiração ao escritor mineiro.
Por ironia do destino, algo que recuso acreditar, estamos a trabalhar no mesmo lugar, diferentes cargos e uma relação de coleguismo tão distante quanto antes. Eu um jornalista investigativo e escritor, ele por sua vez, exibia seu status de redator chefe.

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